segunda-feira, 28 de abril de 2008

SOU UMA ALFACINHA

Confesso que sempre senti alguma «invejinha» dos meus amigos que tinham… terra!
Nas vésperas das férias de Natal, da Páscoa ou de outras festividades, era vê-los e ouvi-los nos preparativos da partida, sôfregos de reencontros com familiares e amigos, ansiosos pelos petiscos, pelos bailaricos, pelos grandes passeios, à beira-mar ou pelas serranias, pelos picnics, pelo descanso na paz da natureza e eu…, «uma sem terra», para aqui ficava, em Lisboa, um tanto órfã, porque, quis a ironia do destino, que a maioria das minhas amizades, fosse e seja, ainda hoje, de fora de Lisboa…
Sempre achei que não tinha terra porque a minha terra era a de toda a gente. E, para cúmulo, eu não tinha sequer bairro, eu era oriunda das Avenidas Novas, muito em moda para a altura, é certo, mas que não me servia de consolo. Eu queria ter um terreno, uma casa cheirando a alfazema, umas vaquinhas, animais de criação, colher frutos das árvores, mexer na terra, andar em liberdade…
Mas enganem-se os que pensam que não amo Lisboa. Amo de verdade esta cidade de acentuados contrastes, amo-a como a lindíssima cidade branca e luminosa, que é, que acorda nervosa todos os dias, fervilha até ao entardecer, adormece cedo, nos bairros onde vive quem trabalha e se deita muito tarde, nas novas zonas de vida nocturna.
Gosto da Lisboa das sete colinas, do Tejo que a serpenteia, dos miradouros de onde se vislumbra o casario branco de telhados laranja, do meu altivo castelo S. Jorge, das ruelas dos bairros típicos, das modernas avenidas, da hospitalidade, das gentes simples…
Não gosto da Lisboa suja, com muito lixo, muita porcaria de cão, de maus odores, desorganizada no trânsito, apinhada de carros, transbordando de desleixo, insegura, com gente carrancuda e infeliz …
Sou alfacinha mas sonho com o campo, com espaços abertos e verdes, com planuras louras a perder de vista, com socalcos de vinha, com árvores curvadas ao peso dos frutos, com riachos e bordas de água fresca, com cheiro a terra molhada, com luares e estrelas, contadas uma a uma …enfim… sou uma alfacinha acidental!!

1 comentário:

Anónimo disse...

Leitora assídua do vosso blog, fico mto feliz pela boa companhia,pela escrita que prende a atenção,pelo facto de ñ entrarem com "problemas"q.já nos magoam. Está mmo bem assim. Continuem ! Por tdas as razões e...pela excelente companhia.