sexta-feira, 13 de junho de 2008

NOITES DE Sto ANTÓNIO


Manter a tradição ao longo dos anos faz parte do espírito de um povo que, apesar dos descontentamentos e das dificuldades de vida, quer manter a ideia viva da alegria.
Isto é positivo, porque mal deste povo se não tivesse um futebol, uns copos e umas marchas para desopilar…

Ontem, fui espreitar um arraial no meu bairro. Tinha curiosidade e queria analisar os comportamentos das pessoas que, do bairro, se deslocavam ao lugar da festa para se divertirem, nesta noite quente.
Deparei com um cenário um tanto provinciano, mas direi mais, provinciano no mau sentido… Um espaço decorado com balões dos Santos Populares, cadeiras à volta da sala de dança para o «pessoal» se sentar, fazendo lembrar cenas do célebre filme «O Baile»; um pequeno espaço improvisado para os comes e bebes, onde não faltava a sardinha da tradição. No outro canto do recinto, um longo balcão de bar, decorado com papeis variados e onde uma quantidade razoável de homens e rapazes iam bebendo cerveja após cerveja ou o copo de vinho tinto.
No espaço de dança, havia ainda poucos participantes mas, à falta de par para a dança, as mulheres dançavam com mulheres e outras improvisavam coreografias individuais, para as músicas mais agitadas. Também alguns casais, com mais idade, se entrelaçavam e exibiam os seus passos de dança à moda antiga.
Sobre um estrado estava um conjunto musical, composto por três elementos. Um que tocava órgão electrónico, o cantor de uns cinquenta e tal anos e um ajudante que dava apoio nos adereços. Sobre uma coluna de som, espanto meu! havia um pai natal, daqueles a que se dá corda e acendem luzes enquanto saltitam. O ajudante dava-lhe corda sempre que o dito se inactivava. O animador da festa, de microfone em punho, motivava as pessoas à participação na dança e à alegria nesta noite de festa.
O som não era mau. Até me apeteceu dar um pezinho de dança mas, como quase sempre, nestas situações, quando os participantes são poucos e, à volta, há gente a observar, existe acanhamento, alguma inibição ou mesmo vergonha. Fiquei-me por ali e saí para vir ver, em casa, o desfile das marchas na Avenida, pela TV.
Mas fiquei a pensar naquela gente esforçada que tinha vontade de manter a tradição no seu bairro… Talvez pela noite fora se tenham animado mais, pelo menos, ouvi a música até às duas da manhã. Certamente, os copos devem ter desinibido as pessoas, talvez o animador tenha tido êxito no seu apelo e motivação para a alegria…

Do desfile das marchas só posso agradecer o empenho que todos os participantes demonstraram, porque, pensando bem, não é fácil, nos dias de hoje, juntar as pessoas em colectividades, em horários pós-laborais e ensaiá-los. O espectáculo podia ter sido mais interessante. A SIC não soube aproveitar muito bem este material tão rico. Demasiados cortes com entrevistas insípidas, espaços de publicidade demasiado longos e ângulos de filmagem mal concebidos…
Apesar de tudo, esta animação da cidade é importante para manter Lisboa viva e não fazer esquecer a herança cultural dos nossos antepassados.


2 comentários:

Anónimo disse...

Pois é!! Ainda ontem pensava:que saudades de ir comer uma sardinhas,com ASAE ou sem ela...Ao fresquinho,na rua,com um jarro de vinho, sardinhas e salada, música e uma imensa vontade de dançar!!Qq. dia será!! isa.

goiaba disse...

Também acho que temos de ir a um verdadeiro arraial de Sto António. Este foi muito deprimente e percebe-se porque é que as ruas deste bairro estão tão sujas ... e bem na cidade e junto a uma central de recolha de lixo ...