sexta-feira, 18 de julho de 2008

OS BUDAS DE BAMIAN



Em Março de 2001, o anúncio do bombardeamento dos Budas de Bamian chocou todo o mundo. Deixar que se destruíssem estátuas com mais de 1,5 mil anos, por fanatismo religioso e vingança étnica? Na altura, achei que os poderosos deste mundo deviam ter agido, “proibido”, explicado que obras de arte como aquelas pertencem à Humanidade e não são pertença de um povo e muito menos de um Governo. Nada se fez e elas foram desfeitas.

Os Budas Gigantes de Bamian, com 55m e 38 m, foram construídos no séc.V e pertencem à chamada Arte de Gandhara que conseguiu integrar, na escultura e pintura, os aspectos relevantes da arte grega e budista indiana ( a Arte de Gandhara foi desenvolvida pelo povo kuchano, originário da actual Sibéria). Os monges dos mosteiros de Bamian, mais de mil, viviam em mosteiros e como ermitas nas cavernas esculpidas nas rochas e a eles se deve a construção das estátuas e o embelezamento das grutas com outras estátuas de Buda e numerosos frescos.
Bamian fica a noroeste de Cabul, no rebordo da cordilheira do Indocuche. Foi um vale fértil e, tal como toda a região hoje ocupada pelo Afeganistão e norte do Paquistão, uma zona de comércio intenso, na rota de caravanas que traziam sedas da China e “vidros” de Roma – a Rota da Seda.
Na época da sua construção, os Budas de Bamian “ cintilavam em ouro e cores vivas” mas, em 2001, já tinham perdido o brilho e parte das feições. Continuavam, no entanto, imponentes, dominando todo o vale.

Os talibãs decidiram destruí-los por fanatismo religioso alegando que não se presta culto a “Ídolos de pedra” mas sobretudo por ódio étnico. Os talibãs são sunitas e predominantemente de etnia pastum. Os habitantes do vale de Bamian são hazaras e xiitas. Dizia um ditado talibã sobre os não-pastuns : “Aos tadjiques, o Tadjiquistão; aos uzbeques, o Uzbequistão e aos hazaras o “goristão”(cemitério)“…A destruição das povoações hazaras já se tinha iniciado em 1999 mas, em 2001, aquando do bombardeamento e dinamitação dos Budas, várias povoações foram incendiadas, de tal forma que muitos dos habitantes que não fugiram da região se refugiaram nas cavernas e foram contribuindo para a destruição e “desvio” de muitos achados.
Actualmente está em curso uma campanha da UNESCO no sentido de realojar os habitantes das grutas e proceder à recuperação possível do que resta. Também se fala na reconstrução das estátuas mas há divergências entre os arqueólogos e entre os políticos.

Dizem funcionários da UNESCO que a venda de antiguidades da região nos mercados de arte de Londres, Paris, Nova York e Tóquio é a segunda “fonte de exportação” - a primeira é a papoila e o ópio (92% da produção mundial).

Resta a esperança e a persistência de muitos afegãos na defesa dos seus bens culturais que se pode traduzir na faixa que foi colocada sobre a porta do Museu Nacional de Cabul: “Um País Só se Mantém Vivo Quando a Sua Cultura se Mantém Viva”.

1 comentário:

peonia disse...

A cultura define um povo e, por isso, nada mais acertado do que essa inscrição em Cabul!
Tanto património cultural destruído e tudo em nome de ideais sem sentido...
Mas dá que pensar como actua o "mercado" estrangeiro que está sempre pronto a pagar bem as antiguidades!