quinta-feira, 17 de julho de 2008

PEPETELA (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos)

A propósito do texto “ Uma nova capital para Angola?”, lembraram-me o livro de Pepetela – “Predadores”. E a esse eu juntei a lembrança de outros relativamente recentes, “Jaime Bunda e a Morte do Americano”, “ Jaime Bunda, Agente Secreto”.
Admiro a coragem de Pepetela e leio tudo o que escreveu desde “Mayombe”, escrito em 1980. Foi estudante da “Casa do Império”, exilado em França e na Argélia, onde se licenciou em Sociologia.
Foi guerrilheiro em Angola (“Mayombe” relata essa experiência), vice-ministro da Educação depois da independência, professor de sociologia e … escritor, sempre.
Nos seus livros procurou dar a conhecer e fazer compreender tradições angolanas, heróis esquecidos, costumes de gente simples, ideais de um povo que ansiava pela independência e liberdade. Mas a governação do país, as lutas partidárias, a corrupção e as cumplicidades foram-no desiludindo e os seus últimos livros, sobretudo os do agente Jaime Bunda e “Predadores”, denunciam os hábitos de uma nova burguesia que se aproveitou de ligações políticas, usou o aparelho de estado ou negócios ilícitos para adquirir poder económico e estatuto social. Não deixa também de referir alguns esforços do governo para se fazer cumprir a lei e travar a corrupção mas fá-lo com muito humor, através do seu agente Jaime Bunda, investigador do estado, inábil, mal preparado, trapalhão e corruptível …
Não sei como vai evoluir a obra de Pepetela. A verdade é que o seu último livro “ O quase fim do mundo” é ficção: a história do que pode acontecer quando toda a vida animal desaparece da Terra, à excepção de um pequeno recanto africano onde meia dúzia de pessoas iniciam uma nova vida. É o desespero de querer que tudo comece de novo para que possa evoluir melhor? É a fé num recomeço a partir de África?
Aguardo o próximo livro.

2 comentários:

peonia disse...

Muito enriquecedora esta mensagem. Quando o homem se desilude, o melhor é a ficção...que é também uma forma de evasão!
Esse será, por certo, o caso de Pepetela. E quem sabe se um dia não acontece o milagre da mudança?

Anónimo disse...

Que bom ter trazido Pepetela,para aqui. É um ser extraordinário.
Gosto da pessoa, da coragem,da escrita.Abraço.
isa.