sábado, 23 de agosto de 2008

PESSOAS

1- Demba Diabaye

Sempre me merecem profundo respeito as pessoas que perseguem um objectivo com grande determinação e coragem, superando obstáculos que parecem intransponíveis e fazem desistir o comum dos mortais.

Demba Diabaye é um senegalês que está a fazer uma tese de mestrado sobre “as técnicas narrativas de Almeida Garret” e sonha com um doutoramento sobre o “romantismo português”. É aluno da Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade de Dakar e está em Portugal para fazer pesquisa na Faculdade de letras e na Biblioteca Nacional. O irmão, comerciante de máquinas de costura em Dakar, emprestou-lhe o dinheiro para a passagem de avião e, para se manter em Portugal, vende bugigangas na praia da Costa da Caparica.

É bom recordar que o Senegal pretende fazer parte da CPLP e esteve presente no último encontro, com estatuto de observador. Talvez por isso há 17 mil alunos que escolhem “português” no Ensino Secundário” e 700 estudantes a frequentar o Curso de Português na Faculdade de Letras e Ciências Humanas de Dakar - há mais alunos de Português no Senegal do que em França.
A importância da Língua Portuguesa no Mundo devia contribuir para a nossa auto-estima e para desenvolver cada vez mais projectos nessa área. É um poderoso instrumento de expansão de cultura, prestígio e afirmação.

2. Fernando, da Ponta do Ouro

A lealdade, a relação afectiva, o respeito e o reconhecimento de alguns por outros que foram “porto de abrigo” em momentos difíceis, emociona-me.

A cerca de 150 Km do Maputo, para sul, fica uma zona paradisíaca, que portugueses e moçambicanos não souberam nem sabem valorizar : a Ponta do Ouro. Os sul-africanos , a 8 km da fronteira , usam-na desde há muito tempo, quase sempre da pior maneira ( motas de água, ski, caça submarina, acampamentos e pré-fabricados, muito barulho e álcool, …) . Estive lá numa época em que, estando mal comigo e com o mundo, não soube aproveitar as belas águas quentes, azuis e transparentes, as areias finas e o calor manso.

Numa crónica de Gonçalo Cadilhe, no Expresso de 15/8, soube que o Fernando, dono de um bar na “orla do mercado, à saída da praia”, queria encontrar a família portuguesa que o criou. Viveu com eles desde muito pequeno até aos 17 anos. Os portugueses fugiram para Lisboa e Fernando ficou a tomar conta da casa no Maputo. Há 30 anos que os espera e propõe-se ajudá-los com
dinheiro para que voltem a Maputo !

Porque sei que houve muitos “Fernandos” que ficaram nas “colónias” a tomar conta de casas, lutando por vezes contra usurpadores e esperando sinceramente a volta dos seus donos, senti um “nozito” com aquele apelo.

2 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

Há uns anos veio passar o verão a minha casa uma jovem mãe de família do Senegal que estava a estudar português na Universidade de Dakar.
Esse gosto pela nossa língua vinha-lhe de uma avó nascida portuguesa na actual Guiné-Bissau.
E olha que já falava muito bem!
São "malhas que o Império tece..."!

Abraço

Anónimo disse...

Já ontem tinha feito uma visita.Interrompida por um telefonema ñ disse nada...Hoje aqui estou para dizer como esta postagem me emocionou!Quantas vezes nos cruzamos,na rua,com seres fantásticos k lutam para atingir os seus objectivos?!
Abraço.
isa.