quarta-feira, 3 de setembro de 2008

O primeiro dia de escola de WANGARI MAATHAI


Começou o ano lectivo. Para centenas de crianças é o primeiro contacto com infantários e escolas. Na TV vêem-se reportagens sobre a compra de material escolar, as exigências dos filhos e a complacência de muitos pais com uma nota ligeira para aqueles que sabem explicar às crianças que “não se pode comprar tudo o que apetece” (mesmo quando há muito dinheiro).

Estou a ler um livro de WANGARI MAATHAI, Prémio Nobel da Paz 2004, uma mulher queniana, nascida em ambiente rural e que agarrou todas as oportunidades para adquirir instrução. Com formação superior adquirida nos EUA, ao abrigo de um programa patrocinado por J.F. Kennedy, foi professora da Universidade de Nairobi, fundadora de diversos movimentos cívicos de defesa de direitos individuais e colectivos, defensora acérrima da relação entre o desenvolvimento sustentado dos riquíssimos recursos de África e a Democracia e a Paz. Fundou o “ Movimento Green Belt” para lutar contra a desertificação do país. Através dele foram plantadas milhares de árvores no Quénia e, por extensão, noutros países do Mundo. Foi presa diversas vezes, humilhada, ameaçada, despedida da Universidade mas nunca desistiu. Depois de premiada, o país rendeu-lhe homenagem …

Esta introdução à autora foi só para falar do seu primeiro dia de aulas.
“Tinha uma ardósia, um caderno de exercícios, um lápis e um saco. O meu primo Jono veio buscar-me para me levar à escola. Era um pouco mais velho e já sabia ler e escrever. Quando percorríamos descalços o caminho de terra, o meu primo parou e sentou-se á beira da estrada. “Sabes ler e escrever? perguntou-me. “ Não, não sei”, respondi. “Sabes ao menos escrever? “, insistiu para me intimidar. Disse-lhe que não mas nem tinha a certeza de saber o que significava escrever. “Bem, vou mostrar-te uma coisa”, disse misteriosamente. “O que é? “. “ Vou mostrar-te como se escreve”. Sacou do seu caderno e nele escreveu algo com um lápis de cor que era preciso molhar com a língua para que começasse a escrever. Fiquei impressionada e disse: “Ena, sabes escrever!”. O meu primo acenou afirmativamente e fez uma coisa que achei miraculosa. Retirou uma borracha do saco e apagou o que tinha escrito. Nunca tinha visto uma borracha, era pura magia. “És capaz de fazer isto? Perguntou-me orgulhoso. “Não, não sou”, respondi com tristeza, pensando que ele era um génio. “É o que vais aprender na escola”, afirmou com solenidade. Foi a grande motivação para mim.
Quando, finalmente, aprendi a ler e a escrever, nunca mais parei, porque sabia ler, sabia escrever e sabia apagar! “

Há 50 anos como hoje, para qualquer criança, aprender a ler, escrever e apagar deve continuar a ser algo de mágico. Todas as crianças do Mundo deveriam ter esse direito. E ainda não têm.

1 comentário:

ZIA disse...

Gostei particularmente deste «post», porque a escola e o voltar cada ano às aulas, em cada prenúncio de Outono, foi, enquanto aluna e, mais tarde profissional, do mais estimulante na minha vida.
Depois tocou-me a saborosa ingenuidade de Wangari e o contraste com as mais balofas afirmações de tantos jovens e crianças que, nesta altura do regresso às aulas, não conseguem valorizar a escola e as aprendizagens!
Gosto sempre de ler!
Abraços
ZIA