quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Ambientalistas e Ecocolonialismo


Vivemos um tempo de estranhas opções mesmo que, muitas vezes, bem intencionadas. Veja-se o seguinte:
Em “sites” de algumas ONG’s ou fundações propõe-se que sejam salvos certos locais do Mundo, comprando por alguns cêntimos, uns quantos centímetros quadrados de solo. Por ex: “ Dez centímetros quadrados de floresta tropical por 20 cêntimos “ ; “um metro quadrado do atol de Palmira por …”. Mas também se vendem “ 4 046 m2 de um corredor para elefantes indianos por 61 euros”, “ 2000 m2 do Pantanal do Chaço (Brasil), por 30,5 euros”.
Mas não é só nestas paragens exóticas que se compram terras para preservar a Natureza. No Reino Unido, a Fundação Woodland promoveu a compra de 1100 bosques por 200 mil apoiantes! Nos Estados Unidos, o Governo vende terrenos públicos para que os privados os preservem de maus usos e aí os ambientalistas abastados são bem vindos.

Mas, se nos países ricos esta estratégia parece ser eficaz, nos países pobres teme-se por uma nova forma de colonialismo ecológico – o ecocolonialismo. Já foi por esta via que muitas populações foram deslocadas das suas terras (das quais, naturalmente, não têm título de propriedade), impedidas de cultivar, caçar ou pescar, para os novos donos criarem parques e reservas naturais …
Investigadores do Programa Povos Florestais descrevem “expulsões forçadas, violações dos direitos humanos e destruição dos seus modos de vida, como resultado directo da acção ecologista na região”.
É em África, na Índia e nas Filipinas que esta prática ambientalista tem feito mais estragos junto das populações indefesas: os bosquimanes do Bostsuana, os nómadas Gujjar da Índia, os naturais da ilha de Palawan nas Filipinas (1), os pigmeus do Congo (expulsos das suas terras para se criar um parque nacional para gorilas e a viver agora na miséria e em situações de quase escravatura).
Receia-se também que o “chapéu” ambientalista fomente o ecocolonialismo como mais uma excentricidade dos muito ricos. É assim que, na Patagónia, cerca de 300 americanos ricos compraram milhões de metros quadrados de locais selvagens que incluem lagos, rios, montanhas. Criam-se neles parques
privados que pretendem preservar a Natureza, fomentando o turismo e o lucro privado … Estão entre eles “os patrões da moda Luciano e Carlo Benetton, e os actores Sharon Stone e Christopher Lambert” e também Ted Turner, fundador da CNN. Acontece que parte destas terras cobrem um dos maiores reservatórios de água do mundo e a imprensa argentina “ sugere que Turner pretende apoderar-se dos recursos aquáticos e conduzir os agricultores argentinos à falência”.

Um empresário sueco (John Eliasch), conselheiro florestal de Gordon Brown, através de uma ONG que lidera, comprou 1619 km2 de floresta amazónica por 9,86 milhões de euros e quer comprar outras partes do Equador e do Brasil - o governo brasileiro já lhe disse que o “Brasil não está à venda” e acusou-o de estar a atacar a soberania nacional.

Estas vendas pela Internet, sobretudo as que são feitas em campanhas ambientalistas, que parecem bem intencionadas, levantam problemas jurídicos sérios: quem dá dinheiro para que uma floresta não seja abatida por madeireiros, é ou não o dono das árvores? É que o comércio do carbono está aí … ter árvores dá créditos em emissões de carbono e os países pobres podem vender esses créditos aos países ricos que continuam a poluir.

Admite-se que “o ambientalismo poderá crescer ainda mais, assumindo maior controlo sobre as comunidades locais do que os colonialistas do passado”
Mundo complicado e perverso este!

(1) A última fotografia é do parque nacional da ilha de Palawan. Os naturais da ilha perderam as suas terras, emigraram ou são assalariados e vivem agora das receitas do turismo. Isto é “preservação” e progresso?

Nota: informações e fotos do artigo “ Comprar a Terra aos bocadinhos” de John Vidal, publicado pelo “The Guardian” e transcrito no “Courrier internacional” de Outubro 2008.

1 comentário:

telison disse...

Moro na região amazônica do Brasil, especificamente no Estado do Amapá. Este tipo de prática é intensificada com as "bênçãos" do Governo Estadual e Federal. Ter o Estado mais preservado da nação foi fácil, com tanto entreguismo e participação de OnG's internacionais, difícil é viver no Estado que convive com a pobreza, dependente da importação de alimentos e sem expectativa de mudança. EcoColonialismo, nova forma de domínio das riquezas alheias.