sexta-feira, 5 de junho de 2009

“AUSTRÁLIA”

Não vi o filme quando esteve por aí. Vi agora, em CD. Interessante enquanto “western” australiano, com todos os ingredientes desse tipo de filme mais o facto de se passar no início da II Guerra Mundial e de invocar o bombardeamento de Darwin pela aviação japonesa (1939), depois da destruição de Pearl Harbor. O filme é de Baz Luhrman ( o mesmo de Moulin Rouge) e é interpretado por Nicole Kidman e Hugh Jackman, nos principais papéis.

Para mim, importante no filme é Nullah, um pequeno aborígene, interpretado por Brandon Walters, de 13 anos. Nullah é um mestiço, “ nem branco nem preto, mulato que não pertence a ninguém”. É neto do grande King George, mágico, feiticeiro, sábio que lhe ensinou “o que há de mais importante : contar histórias, entoar canções mágicas, ficar invisível – a magia gulapa”. E Nullah aprendeu. Canta e os seus sons mágicos chegam aos ouvidos de quem os deve ouvir. Os seus olhos, o seu olhar, o seu sorriso, a sua agilidade … isso sim, no filme, é magnífico.

Na história, Nullah também faz recordar a política australiana de aculturação e de “eliminação” progressiva da raça aborígene. Depois de terem sido confinados a territórios inóspitos, desde 1905 mas sobretudo a partir de 1937, as crianças mestiças ( como terão aparecido ?!...) eram retiradas às famílias para que “o seu lado negro” fosse apagado e pudessem ser civilizadas e integradas na sociedade branca – para os servir, naturalmente. Deviam ser casadas com brancos de forma a que os traços sanguíneos aborígenes fossem apagados em 3 ou 4 gerações. A partir de 1951 esta prática de roubo de crianças foi generalizada a todos os nativos.
A polícia recolhia as crianças, sobretudo nos territórios ocidentais para onde tinham sido empurrados os nativos, e entregava-as às missões religiosas (!!...)
- até 1972 oficialmente, até aos anos 80 na realidade . Terão sido removidas cerca de 50 mil crianças.
É verdade que em 1997, a Justiça australiana declarou que o que fora levado a cabo contra os aborígenes foi um genocídio. Mas só em 2008 o 1º ministro australiano pediu desculpa às “gerações roubadas” , às famílias e às comunidades.
Foi esta política que nos fez esquecer que, tal como os índios são a população nativa da América, os aborígenes são a população nativa da Austrália. Eram mais de 2 000 etnias em 1788, caçadores e nómadas mas, para os colonizadores, a Austrália era terra de ninguém – não encontraram lá pessoas mas apenas “ remanescentes do neolítico”…

1 comentário:

irene andrade disse...

Quanta tortura em nome de Deus e da civilização!!!. Muito têem ainda as nações de procurar redimir por erros e obscurantismos praticados ao longo da Hitória. Até Portugal...Mas creio que com algumas atitudes dos últimos Papas,pelo menos a denúncia e a contrição ficam assumidas claramente para exemplo.