quinta-feira, 19 de novembro de 2009

“ amor em minúsculas”

Se tivesse que responder àquela pergunta vulgar ( e tola, na minha opinião), sobre qual o livro ( filme,…) da minha vida, teria de dizer que foram muitos.
O “ amor em minúsculas “ de Francesc Miralles é, de certeza, um deles.
Comprei-o porque tinha um gato “igual” ao Amon na capa … e acabou por ser um daqueles livros a reler.
Em resumo, é a história de como um acontecimento ( o aparecimento de um gato) pode mudar a vida de uma pessoa – mais um exemplo da famosa teoria do caos .

Samuel é um professor de Literatura na Universidade de Barcelona e vive muito só. Os seus dias são passados entre as aulas a estudantes desinteressados e o apartamento onde prepara aulas, lê, ouve música. Não tem amigos, não tem namorada, não tem hábitos sociais e sente que a sua vida é um tédio.
Um dia ouve um arranhar na porta da rua, abre e um gatinho enrosca-se nas pernas. Nunca pensou em gatos, nada sabe sobre os seus hábitos, não quer sequer pensar em ficar com aquele – põe anúncios em jornais, telefona a Sociedades Protectoras de animais. Entretanto começam a surgir coincidências ( há coincidências?...) que o levam a conhecer vários personagens interessantes e incomuns e o gato vai ficando. É o vizinho do andar de cima ( para onde o gato foge), um redactor e coleccionador de “sabedorias do mundo” ; é um misterioso escritor obcecado com uma viagem à Lua ; é a veterinária-psicóloga e …é Gabriela, o seu amor de infância.

Enquanto acompanhamos o seu dia a dia, agora muito preenchido, o Samuel-professor vai-nos dando lições de literatura, história de arte, cinema, música … de Vida. O gato é já quase só um pretexto mas não deixa de constatar que “um gato nunca faz aquilo que esperamos que faça”, que “só pertence a si próprio” e que “não tem donos, tem servos”. Acaba mesmo por ajudar o vizinho do andar de cima, que adoece, e escreve sobre a “vida espiritual e sensorial” dos gatos ! Depois de recolher informações conclui :” diz-se que os gatos são egoístas mas, na verdade, são simplesmente inteligentes. Não vêm ao dono se conseguirem que o dono vá até eles… a sua força reside na sua aparente indiferença … mantêm a sua dignidade e deslocam-se consoante os seus caprichos …” . Mais adiante invoca uma autora americana que dizia ter aprendido com os seus dois gatos “ a saltar sem cair e a ronronar quando se sente feliz” !

Por fim, explica o título : “ amor em minúsculas” fê-lo sentir que “ ao fazer uma boa acção esta dá origem a uma cadeia de acontecimentos que nos devolvem o amor multiplicado. No final, mesmo que queiramos voltar ao ponto de partida, já não é possível porque o amor em minúsculas apagou qualquer caminho de volta ao que havíamos sido antes”.

Nota : e como se chamava o gato ? Mishima, nome do autor do livro que estava a ler quando o gato o escolheu ( “ O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar”)

1 comentário:

irene andrade disse...

Cabe-me inaugurar a página dos comentários ao vosso texto. Tenho a certeza de que os animais nos ensinam muita coisa. Eles também têm uma personalidade e uma alma. E como são invulneráveis aos maus exemplos da sociedade dos humanos,são uma companhia sicera, uma presença desinteressada, sem disfarces. Quem não amará um gato,mesmo com a sua altivez,e os seus silêncios ? O Amon é um desses gatos felizes por serem tão amados. Bjinhos. Irene